No campo da Ciência da Literatura, há uma classificação que aborda as obras literárias de duas formas fundamentais: a literatura canonizada, que se compõe de um conjunto de obras julgadas, do ponto de vista estético, como a literatura dita superior ou elevada. Do outro lado, existe a literatura que não é a canonizada, e que, recebe várias denominações, como literatura best seller, literatura de consumo, literatura de mercado, literatura de autoajuda, literatura popular, literatura de massas, literatura Kitsch, entre outras.
Em linhas bem gerais, nada tenho contra os best-sellers. Isso porque me parece, de todo, natural e saudável que se queira ler um livro simplesmente com a finalidade de entretenimento ou de passar as horas tal como se faz assistindo a um filme de aventuras ou qualquer outra classificação que não seja a estranha classificação de “filme de arte”. Num primeiro instante, todos os livros são livros como todos os carros são carros. Dessa ótica particular, num primeiro momento, um Fiat 147 é tão carro quanto um Camaro amarelo, e O Alquimista, de Paulo Coelho, é tão livro quanto Os Irmãos Karamazov, do russo Dostoiéviski.
Se todos são livros e todos são carros; nem todos são livros nem todos são carros da mesma forma para os leitores e para as instituições sociais que acabam decidindo os livros, por exemplo, que merecem estar na lista das grandes obras primas da literatura brasileira, o chamado cânone, ou que devam ser ensinados em sala de aula e ser solicitados em exames vestibulares.
Realizada essa brevíssima e humilde defesa do best seller (muitos outros argumentos deixaram de ser apresentados), que, nos dias de hoje, é chamado tecnicamente de paraliteratura, gostaria de tecer um contraponto ao que até agora foi escrito, valendo-me das ideias do pesquisador francês Vincent Jouvet, desenvolvida no livro A Leitura (Editora da UNESP, 2002). Trata-se, repito, de um contraponto, e não de um ataque contra a literatura de mercado, mesmo porque essa modalidade de literatura, muitas vezes ao longo da história, já passou do status de paraliteratura ao de literatura canonizada.
De acordo com um apanhado geral e segundo Jouve, os leitores de best sellers ou de paraliteratura, não vão atrás, por meio da leitura, de uma experiência desestabilizadora, mas, antes, daquilo que eles já esperavam. Enfim, não vão à leitura para mudar, para alterar-se, para completar-se, para rever sua vida, mas, pelo contrário, para ler tudo o que já sabem e permanecer na reconfortante posição daqueles que já sabem e que, por isso, não precisam se esforçar para mudar. Trata-se, em suma, de uma enganadora confirmação de si. Desse ângulo, os livros de mercado não oferecem uma transformação ao leitor, e o esforço que do leitor é exigido é quase nulo. Os livros best sellers tranquilizam por não colocar nada em dúvida, e isso tem um efeito apaziguador impressionante. Há leitores que preferem isso sobre qualquer coisa. Respeitemo-los, mas não deixemos de refletir sobre isso.
*João Campato Jr. Pós-Doutorando pela USP. Pós-Doutor pela UNICAMP e pela UERJ. Autor de vários livros e artigos científicos. Crítico literário. Professor dos Cursos de Administração e de Psicologia da FAP, e de Letras da FABI.
Tupã