Com a desospitalização das clínicas psiquiátricas do município e a transferências dos pacientes para as Residências Terapêuticas;* uma etapa muito importante teve início: a adaptação a uma nova realidade.
Há cerca de seis meses;* a prefeitura instalou 14 novas Residências Terapêuticas totalmente adaptadas para acolher cerca de 140 pessoas;* que desde então;* acompanhadas por uma equipe multidisciplinar da Secretaria Municipal de Saúde;*
passam pelo processo de readaptação do convívio em sociedade.
As Residências Terapêuticas constroem um novo olhar sobre as pessoas com transtorno mental e seu lugar social;* uma vez que voltam a serem inseridas na comunidade e podem reconquistar espaços e direitos na comunidade.
Diversas atividades são realizadas diariamente nas residências;* desde atividades fora da casa;* até as que o próprio município oferece como idas ao museu e passeios. Os moradores têm total liberdade para frequentarem os lugares que desejarem.
Em cada Residência;* os moradores são acompanhados rotineiramente por auxiliares de serviços gerais;* técnicos de enfermagem;* auxiliares de cozinha;* cuidadores e ainda recebem acompanhamento psicológico.
De acordo com o secretário municipal de Saúde;* Laércio Garcia;* as Residências Terapêuticas fazem parte de uma luta antimanicomial que tem reformulado o tratamento psiquiátrico em todo o país;* com a finalidade de desinstitucionalizar clínicas manicomiais. “Dentro das Residências os moradores podem ser protagonistas de sua própria rotina”;* acrescentou Laércio.
Noivado
A evolução do processo de adaptação dos moradores das Residências Terapêuticas tem sido rápido e chamado a atenção dos profissionais que os acompanham. A chefe de setor de serviço de Residência Terapêutica;* Bruna Michely Lisbôa Bustamante Januário;* conta que recentemente o casal Sandra e Carlos;* moradores de uma das casas;* realizou uma festa em comemoração ao seu noivado.
“A festa aconteceu na casa onde eles moram e foi um momento muito especial;* que contou apoio de todos os funcionários. O casal já namorava antes de ir para a residência”;* disse. “O evento reforça tudo aquilo que pregamos com relação às Residências Terapêuticas: o restabelecimento da vida em sociedade dos moradores;* através de atividades comuns;* que fazem parte da rotina de todos os seres humanos”;* acrescenta Bruna.
O processo de adaptação
Os moradores de hospitais psiquiátricos de Tupã foram transferidos para as Residências Terapêuticas segundo critérios determinados previamente.
Cada residência recebeu 10 moradores;* entre dependentes;* semi-independes e independentes.
Confira abaixo o relato da chefe de setor de serviço de residência;* Bruna;* que detalha como foi o processo de adaptação dos moradores:
Todos estavam à espera dos moradores das futuras residências. Ninguém sabia ao certo como seria o processo de aceitação por parte deles;* o que gerou ainda mais ansiedade. Quando a van que os transportaria parou em frente à instituição;* eles já estavam à espera. Havia um funcionário com uma lista;* que os chamava nominalmente. Aquele era um chamado de saída e liberdade e;* para nós;* ao lado de fora do portão;* a experiência de conhecer quem eram os nomes daquela lista.
E assim foram;* de dez em dez moradores;* da primeira saída da van até a última. Chegar na casa foi uma grande novidade tanto para eles;* quanto para os funcionários. Conhecer o quarto;* o banheiro;* seus pertences;* móveis;* novos amigos do lar: tudo naquele momento era curiosidade.
Os primeiros dias de adaptação não foram fáceis para ninguém. Alguns moradores gostavam de dormir no chão e;* a todo o momento;* incansavelmente;* mostrávamos o quão confortável era seu quarto.
O banho também não fazia parte do cotidiano diário de alguns moradores. Explicamos a necessidade da higienização e os prazeres de estar limpo e cheiroso. Alguns não gostavam de usar roupas intimas e até mesmo vestimentas tão simples para muitos;* como chinelo e sapato.
Cada morador se esforçou muito em seu tempo e momento. Sem apavorá-los e sem cobranças;* incluímos em seu dia a dia;* um pouco de rotina diária e da vivência de um lar.
Não eram apenas eles que aprendiam novas coisas: todos que ali estavam diariamente aprendiam também. Em pouco tempo já estavam frequentando o comércio da cidade;* lanchonetes;* feira livre;* praças;* estádio e demais atrações e programações da nossa cidade. E eles não pararam por aí: alguns já estão viajando e realizando sonhos.
Nossos moradores a cada passeio provam a muitos que podem sim se socializarem;* e serem respeitados com suas diferenças;* ressaltando principalmente que limitações não são barreiras para as conquistas. Provam;* sem essa intenção;* que podem ser livres.
Estamos a cada dia em busca de autonomia e de momentos que possam fazer parte das novas lembranças dos moradores. Uma nova história passou a ser escrita na vida de cada um e hoje eles são os protagonistas: já fazem suas escolhas;* já tem voz do querer;* desejos e vontades que podem realizar sem medo.
A evolução de cada um foi realizada em seu tempo e ainda estão em busca de mais e mais. Estes seis primeiros meses mostraram a todos o quanto são capazes de ir além de suas expectativas.
No mais;* pedimos paciência a todos que nos encontram por aí;* porque muitos dos passeios são tão empolgantes e tão esperados;* que a felicidade é inevitável. Existe sim a pureza no olhar e a intensidade de viver sem perder tempo. Viver agora é uma questão de escolha. E os moradores das Residências escolheram viver a cada dia;* um novo dia.
Bruna Michely Lisbôa Bustamante Januário;* Chefe de Setor de Serviço de Residência Terapêutica de Tupã
Tupã